Foto: TV Globo Ampliar
Dráuzio Varella: “Parei de vergonha. Imagina um oncologista fumante?”
Um belo dia, 32 anos atrás, o dr. Drauzio Varella parou de fumar. “Parei de vergonha. Imagina um oncologista fumante?”, conta ele, que cultivou o hábito durante 20 anos. O seu irmão, Fernando, que trabalhava com ele no acompanhamento de pacientes com câncer, seguiu fumando. “Passei 10 anos enchendo meu irmão para ele parar. Hoje até me arrependo de ter insistido tanto. Quando ele ficou com câncer no pulmão e disse que não podia mais fumar, eu pensei: ´Agora não adianta mais. A tragédia que poderia ter acontecido já aconteceu.”
Combater o cigarro é uma cruzada de Dráuzio, que apresenta aos domingos no "Fantástico", até 18 de dezembro, o quadro “Brasil sem Cigarro”, em que acompanha três fumantes na batalha para largar o vício, e enquanto isso incentiva o resto do Brasil a fazer o mesmo. “O Brasil tem 25 milhões de fumantes, cerca de 15% a 17% da população. O 'Fantástico' tem uma audiência de 50 milhões de espectadores, e a mesma porcentagem de fumantes, o que dá 6,8 milhões de fumantes. É menos que os Estados Unidos, e menos que muitos países da Europa, mas ainda assim é uma multidão. Se eu conseguir atingir 1% deles, e convencer 68 mil a largar o cigarro, essa vai ter sido a minha ação mais importante como médico em 40 anos de exercício da profissão”, exagera ele. Veja a seguir o bate-papo com Drauzio Varella.
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iG: Parar de fumar é muito difícil. Não será um desincentivo se algum dos fumantes do quadro “Brasil sem Cigarro” não conseguir parar?
Drauzio Varella: Ah, a vida é assim mesmo. Nem todo mundo consegue parar. Nós vamos dar todos os motivos para eles pararem, mas a decisão final é de cada um. iG: Por que é tão difícil parar?
Drauzio Varella: O cigarro é a dependência de droga mais terrível que existe, é a maior dependência de droga já conhecida na humanidade. Em nenhuma outra droga a síndrome de abstinência se apresenta em intervalos tão curtos de tempo. Um fumante que consome três maços de cigarro por dia, ou cerca de seis cigarros por hora, tem uma crise de abstinência a cada 10 minutos. iG: Fisicamente, como isso acontece?
Drauzio Varella: Você dá uma tragada e a nicotina leva de 6 a 10 segundos para chegar aos receptores do cérebro. Ali, alguns neurônios são responsáveis pela liberação de dopamina, neurotransmissor que produz a sensação de satisfação e prazer. Na primeira tragada que você dá você já fica calmo, por isso as pessoas dizem que o cigarro acalma. O que ele faz é acalmar a síndrome de abstinência que você está sentindo pela falta do cigarro. Quando você apaga o cigarro, a concentração de nicotina no sangue cai em alguns minutos, e logo você está ansioso por outro cigarro. iG: Por que a tendência é fumar mais quando se bebe?
Drauzio Varella: A nicotina se dissolve no álcool, e o álcool é diurético, você o elimina mais rápido, por isso você fuma mais quando bebe.
Drauzio Varella: Ah, a vida é assim mesmo. Nem todo mundo consegue parar. Nós vamos dar todos os motivos para eles pararem, mas a decisão final é de cada um. iG: Por que é tão difícil parar?
Drauzio Varella: O cigarro é a dependência de droga mais terrível que existe, é a maior dependência de droga já conhecida na humanidade. Em nenhuma outra droga a síndrome de abstinência se apresenta em intervalos tão curtos de tempo. Um fumante que consome três maços de cigarro por dia, ou cerca de seis cigarros por hora, tem uma crise de abstinência a cada 10 minutos. iG: Fisicamente, como isso acontece?
Drauzio Varella: Você dá uma tragada e a nicotina leva de 6 a 10 segundos para chegar aos receptores do cérebro. Ali, alguns neurônios são responsáveis pela liberação de dopamina, neurotransmissor que produz a sensação de satisfação e prazer. Na primeira tragada que você dá você já fica calmo, por isso as pessoas dizem que o cigarro acalma. O que ele faz é acalmar a síndrome de abstinência que você está sentindo pela falta do cigarro. Quando você apaga o cigarro, a concentração de nicotina no sangue cai em alguns minutos, e logo você está ansioso por outro cigarro. iG: Por que a tendência é fumar mais quando se bebe?
Drauzio Varella: A nicotina se dissolve no álcool, e o álcool é diurético, você o elimina mais rápido, por isso você fuma mais quando bebe.
iG: Como o seu programa pretende ajudar os telespectadores a largarem o cigarro?
Drauzio Varella: Parar é um processo que tem várias fases. A primeira é a negação, quando a pessoa diz;`Eu fumo porque gosto, é um prazer que eu tenho.´ Mas o fato é que todo fumante quer parar de fumar. A segunda fase é a contemplação, quando você começa a cogitar a ideia de parar. Daí vem o preparo, quando você se acostuma com a ideia de que vai parar. Então vem a decisão, que é quando você estabelece uma data para parar. Nas fases iniciais, não adianta fazer campanha. Mas a campanha ajuda porque você economiza o tempo de passar por essas fases de aceitação da ideia e de botá-la em prática. Tem casos em que essa fase de decisão pode durar anos. Tem sempre uma desculpa e você vai empurrando. iG: Se seu irmão não tivesse fumado, ele não teria ficado doente?
Drauzio Varella: Meu irmão era um homem grande, alto como eu, mil vezes mais bonito do que eu. Quando a gente andava pela rua, todas as mulheres olhavam para ele. A doença dele tem grande chance de ter sido decorrente do cigarro. Se ele não fosse fumante, muito provavelmente não teria ficado doente. iG: Como é que as pessoas acendem um cigarro depois de olhar para as fotos chocantes que há nos maços?
Drauzio Varella: A síndrome de abstinência do cigarro provoca ansiedade, e o cérebro dos fumantes interpreta qualquer ansiedade como falta de fumo. Por isso às vezes um fumante acende um cigarro sem nem querer fumar. A foto das embalagens de cigarro provoca tamanha ansiedade que as pessoas acendem um cigarro ao olhar para elas. A informação não resolve o problema. Ninguém fuma sem saber que o cigarro faz mal. Na minha geração era possível você não saber, mas hoje isso não existe. iG: Se o senhor acendesse um cigarro agora, correria o risco de voltar a ser fumante?
Drauzio Varella: Certamente. A nicotina acorda um leão dentro de você, é irresistível. E eu voltaria para o ponto de onde parei, fumando um maço por dia.
Drauzio Varella: Parar é um processo que tem várias fases. A primeira é a negação, quando a pessoa diz;`Eu fumo porque gosto, é um prazer que eu tenho.´ Mas o fato é que todo fumante quer parar de fumar. A segunda fase é a contemplação, quando você começa a cogitar a ideia de parar. Daí vem o preparo, quando você se acostuma com a ideia de que vai parar. Então vem a decisão, que é quando você estabelece uma data para parar. Nas fases iniciais, não adianta fazer campanha. Mas a campanha ajuda porque você economiza o tempo de passar por essas fases de aceitação da ideia e de botá-la em prática. Tem casos em que essa fase de decisão pode durar anos. Tem sempre uma desculpa e você vai empurrando. iG: Se seu irmão não tivesse fumado, ele não teria ficado doente?
Drauzio Varella: Meu irmão era um homem grande, alto como eu, mil vezes mais bonito do que eu. Quando a gente andava pela rua, todas as mulheres olhavam para ele. A doença dele tem grande chance de ter sido decorrente do cigarro. Se ele não fosse fumante, muito provavelmente não teria ficado doente. iG: Como é que as pessoas acendem um cigarro depois de olhar para as fotos chocantes que há nos maços?
Drauzio Varella: A síndrome de abstinência do cigarro provoca ansiedade, e o cérebro dos fumantes interpreta qualquer ansiedade como falta de fumo. Por isso às vezes um fumante acende um cigarro sem nem querer fumar. A foto das embalagens de cigarro provoca tamanha ansiedade que as pessoas acendem um cigarro ao olhar para elas. A informação não resolve o problema. Ninguém fuma sem saber que o cigarro faz mal. Na minha geração era possível você não saber, mas hoje isso não existe. iG: Se o senhor acendesse um cigarro agora, correria o risco de voltar a ser fumante?
Drauzio Varella: Certamente. A nicotina acorda um leão dentro de você, é irresistível. E eu voltaria para o ponto de onde parei, fumando um maço por dia.
Ana Ribeiro, iG São Paulo
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